Review: Deep Trip BOG Fuzz no meu OLP tunadão

Um breve histórico...

Para quem não sabe, a Deep Trip era uma pequena fabricante de pedais de boutique muito promissora, sediada em São Paulo-SP, fundada e comandada pelos eduardos Du Menegozzo e Ed Bonatto (membro deste fórum). Em meados de 2011, quando a sociedade desandou (só os dois camaradas podem dizer o porquê), o Ed fundou a Ed's Mod Shop e o Du interrompeu temporariamente as atividades da Deep Trip. Eis que este ano, a Deep Trip volta ao mercado, com o lançamento de dois de seus incríveis pedais de fuzz, Kryptone e BOG, só que de caras e corações novos!

Em fevereiro de 2010, adquiri o Deep Trip Kryptone Fuzz. Um germanium fuzz que me serviu super bem durante 1 ano e do qual me arrependo amargamente de ter-me desfeito (isso foi antes de eu me assumir como colecionador). Há cerca de 1 mês, bati o olho num mailing da Pro Guitar Shop, que trazia o vídeo do Andy (guitarrista encarregado das reviews), apresentando o novo Deep Trip Kryptone Fuzz (YouTube abaixo):



Então, soprei a poeira do site DeepTripLand.com nos “Meus Favoritos” e descobri que o Du Menegozzo tinha voltado à ativa com a corda toda e encomendei um novo Kryptone.

Email prá lá, email prá cá, o Du me passou alguns esclarecimentos sobre mudanças tanto no Kryptone, quando no BOG e tomo a liberdade de transcrever alguns trechos, compartilhando com os amigos:

Sobre o novo Kryptone:

Du Menegozzo: “O novo Kryptone tem algumas coisas diferentes e principalmente algumas coisas a mais. Agora refiz todos os circuitos para uso exclusivo de transistores de silício (pra poder escapar daquelas inconsistências e chatices do germânio), mantive basicamente a mesma onda do Kryptone anterior, com a diferença que o novo tem um pouco mais de ganho e também tem um corte mais acentuado de graves na saída do fuzz. Fiz isso porque desde o primeiro Kryptone eu adquiri muitas outras referências de fuzz, entre elas dois Vox Tonebenders originais de época, e então pude repensar e refazer o circuito do novo Kryptone baseado em todas essas referências e informações. Então agora o BOG tem uma resposta BEM extensa de graves (ENORME mesmo), pra servir a um tipo de som e um tipo de referência de timbre; e o Kryptone tem uma resposta bem estreita, pra entrar na referência de rock psicodélico dos anos 60, acid rock, british blues, aqueles timbres pontudos e ardidos, com uma textura áspera no bom sentido.

Você tem muito mais experiência com fuzz no contrabaixo do que eu tenho, mas a minha impressão é a seguinte: o Kryptone é excelente pra gerar efeitos bem distintos do som original do baixo, porque ele situa o instrumento numa outra região de frequências, tira o baixo do extremo grave e joga ele mais pro lado dos médios e agudos. Enquanto o BOG é excelente pra manter os graves profundos do baixo, mantendo ele mais ou menos na mesma faixa de frequências porém fuzzeando bastante!

Bom, contei tudo isso pra te fornecer o máximo de informações pra confirmar se você quer seguir na onda do Kryptone ou se eventualmente faz questão de manter sua profundidade de graves e entrar na onda do BOG. Você é quem manda!”

Sobre o uso do Kryptone e do BOG com instrumentos ativos e sua resposta no contrabaixo:

Du Menegozzo: “Pois bem, um baixista estava lá¹, procurando fuzz e ele tinha uma queixa específica: todo fuzz que ele achava legal no Jazz Bass, não ficava bom no Music Man. Era um típico caso de descasamento de impedâncias, a maioria dos pedais de fuzz não é feito pra encontrar instrumentos ativos e portanto causavam problemas com o Music Man dele. Ele trouxe o baixo "problemático" e se divertiu bastante com o BOG e com o Kryptone, em virtude de ambos serem imunes aos problemas causados pelo descasamento de impedâncias, então o baixo funcionou perfeitamente. Não comentei muita coisa antes de ele testar, só ensinei a mexer nos pedais e deixei ele à vontade na sala. Quando terminou, ele comentou exatamente isso que eu te falei (e que eu ainda não tinha falado pra ele): por preservar os graves, o BOG é o que serve melhor para o uso normal com baixo; já o Kryptone, gera umas situações muito interessantes em outra região de timbres, mas tem uso mais específico, mais restrito no baixo, assim como muitos outros pedais de fuzz/drive/distorção para guitarra que cortam graves pra alcançar timbres específicos na guitarra e acabam alterando demais as características do som do contrabaixo.”
(¹) – Evento Pedais e Efeitos Experience 2014 em Recife/PE.

Transistores de germânio ou de silício?

JAZZigo: “Por curiosidade, Du: afinal de contas, que transistor(es) você usa no BOG? Vi no site que ele é baseado no Fuzz Face, mas não ficou claro se se trata de um germanium, silicon ou hybrid!”

Du Menogozzo: “(...) Pode falar que é silício, não tem problema, desde que faça essa ressalva pra explicar os detalhes.” (Prometi guardar segredo).

Depois de todos esses esclarecimentos, claro que resolvi pegar o BOG, em vez do Kryptone.

Meu feedback com as primeiras impressões sobre o BOG:

JAZZigo: “Desculpe a demora na resposta. O BOG chegou na sexta passada, mas somente agora há pouco consegui 5 minutos para testá-lo com meu Fender Mustang Bass… Nota 10. Você está de parabéns… em um teste-cego eu juraria que se tratava de um germanium fuzz, pois nunca vi um silicon fuzz tão warm e responsivo à dinâmica. Aliás, difícil dizer, também, que não se trata de um bass fuzz. Adorei o controle de BIAS, mais comprimido e encorpado para a esquerda e mais rouco e synth para a direita, lembrando quase um gated fuzz. No mais, acabamento e construção do pedal, caixinha (embalagem), manual, pezinhos de borracha, palheta com sua logo de brinde, nota-fiscal… tudo como tem de ser, superando muitos dos fabricantes de pedais de boutique mais renomados do mundo.”

Sobre pedais de boutique:

Du Menegozzo: “Boa noite, JAZZigo! Excelente ler isso, fico feliz que tenha agradado! Quando leio impressões como as suas, me lembro de abril de 2007, quando eu e Ed começamos a fazer os primeiros pedais e tinha um certo grupinho online de guitarristas que ironizava o fato de termos como referências as grandes marcas de boutique americanas e europeias. É verdade que ali ainda éramos apenas dois malucos começando a história da Deep Trip, mas palavras como as suas me dão indícios de que as nossas ideias e objetivos não estavam fora de lugar, né? Acho que estávamos certos.

Interessante a sua percepção referente a germânio (o timbre quente, o circuito respondendo à dinâmica etc.), porque essas são exatamente as características principais desse BOG atual (e já eram também do BOG antigo, de outra forma). Já o Kryptone é um sujeito de agudos mais agressivos e pontudos, não é tão "quente" no sentido dos agudos mais arredondados e tal. São duas personalidades distintas. Inclusive me lembro na primeira vez que levamos os protótipos pra um teste cego de uma banda de amigos, eles usaram os dois pedais, ouviram bastante, levaram para um show... e na volta perguntamos aos dois guitarristas: germânio ou silício? Ambos chutaram que o BOG era germânio (mais quente) e o Kryptone era silício (mais pontudo e ardido), mas era exatamente o contrário! Acho que isso tem muito a ver com o DNA da Deep Trip, o que tá na superfície nem sempre é o que está lá no fundo, tem muito mais coisas debaixo do capô...”

No mais, acho que as áudios falam por si!


Setup de gravação:
- OLP/Status-Graphite MM2 StinGray Bass (com circuito Aguilar OPB-3 sempre ativo e equalização flat)
- Deep Trip BOG Band Of Gypsys Fuzz
- Tech 21 SansAmp Para Driver DI Preamp
- Zoom H4 Handy Recorder.

Ajuste fixo dos controles do Tech 21 SansAmp Para Driver DI, totalmente clean, com DRIVE no mínimo, e BLEND no máximo (emulation):



FAIXA 1 - controles posicionados conforme mostrado na imagem acima, variando apenas o knob FUZZ, conforme segue:
1ª vez: bypass (fuzz desligado);
2ª vez: fuzz no mínimo;
3ª vez: fuzz em 9h;
4ª vez fuzz em 12h;
5ª vez: fuzz em 3h; e
6ª vez: fuzz no máximo.

https://soundcloud.com/jazzigo/02-olp-status-graphite-mm2-stingray-w-deep-trip-bog-fuzz



FAIXA 2 – controles posicionados conforme mostrado na imagem acima, com knob BIAS para a direita (voltagem mínima), apresentando um clipping rouco (meio gated), bom para synth tones:

https://soundcloud.com/jazzigo/01-olp-status-graphite-mm2-stingray-w-deep-trip-bog-fuzz-low-bias

Review excelente como sempre...
Muito interessante os acontecimentos por trás da compra, e mais informações sobre as marcas são sempre bem vindas.
Excelente fuzz, e de igual modo os samples.
Valeu por compartilhar essas informações e tudo mais JAZZigo!

Pra resumir em uma palavra o que disse acima: GAS!  

Muito bom JAZZigo... Esses reviews são valiosos... Obrigado!

Reviews perfeitos como sempre!!

E o pedal excelente! Estou doido pra pegar um fuzz e fiquei bem interessado.

Sujeira pura!! Só achei que poderia sujar mais, é que to acostumando com o minifuzz do Bertola e o Wooly Mammoth.

Falando do design, gostei do logo "BOG" e das descrições em cima, só os desenhos logo acima que ficam nos knobs vermelhos não curti.

Simplesmente fantástico! Curti muito o som desse novo Deep Trip BOG! Varias possibilidades de timbres. Parabéns pelo pedal meu brother!

Ah! E parabéns ao Du por mais essa belezinha! Vida longa à [b]Deep Trip Land[/b!

mais um review de altíssima qualidade, jazz!!

JAZZigo escreveu:...Acho que isso tem muito a ver com o DNA da Deep Trip, o que tá na superfície nem sempre é o que está lá no fundo, tem muito mais coisas debaixo do capô...”[/color]...

bem bacana esta colocação.

vc sabe qual será o próximo pedal da deep, jazz?

^ pelo que eu tenho visto o Hellbender é o próximo...

Muito legal o som do BOG, som ardido, do jeito que eu gosto!   

Parabéns pelo ótimo review mestre JAZZi!

fheliojr escreveu:vc sabe qual será o próximo pedal da deep, jazz?

Psycho Killer escreveu:^ pelo que eu tenho visto o Hellbender é o próximo...

Não conversei com o Du sobre isto, mas os próximos serão: o Hellbender, o Stormy Monday e o Tornado Tuesday. Pelo menos é o que está lá na página: http://deeptripland.com/pedals-ok/

Psycho Killer escreveu: legal o som do BOG, som ardido, do jeito que eu gosto!  

Picante, pero no mucho!   
Em um teste-cego, acho que seria fácil confundi-lo com um germanium fuzz, IMO.

Que review maravilhosa... Como sempre